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Átomos estéticos são também cognitivos

  “Quando vemos algo além de nossas expectativas, pedaços locais de tecido cerebral geram pequenos ‘átomos’ de afeto positivo. A combinação ...

20/12/2008

o conspirador

Uma excelente surpresa o livro de Jaime Nogueira Pinto, Jogos Africanos. Por muitos motivos: em primeiro lugar a narração vai seguindo a par de referências literárias e cinematográficas enquanto nos conta episódios e peripécias como se fossem parte de um filme de espionagem ou coisa parecida. É coincidente com a actuação do autor-protagonista esta encenação constante, para além disso cria suspense e aumenta a adesão do leitor, a concentração na leitura. Ainda neste campo (da arte literária) o discurso é escorreito, fluente, próprio de um bom conversador. Não sei se por causa da percepção tipo filme de espionagem, por vezes são-nos dados pormenores que é estranho estarem ali, como por exemplo quando se diz a escada, mais ou menos os degraus, se depois se virou à esquerda ou à direita, quantas portas se passou até entrar no gabinete, a descrição pormenorizada do gabinete e da posição em que nos recebem, etc. Isso contribui para o fílmico do livro mas parece também contribuir para a verossimilhança, para nos provar que realmente o autor esteve ali, que nos está a contar a verdade. Surpreende também agradavelmente a sinceridade, a franqueza com que assumiu e assume ali as suas opções políticas. Outro ponto positivo: a correcta nomeação da 'guerra de independência' ou da 'guerra d'África' conforme a perspectiva em que se coloca. Nota-se a sua atracção por personalidades fortes e a condescendência para com regimes autoritários africanos (não colhe, a meu ver, o argumento de serem estados novos - isso cria uma tendência, vê-se, mas não uma fatalidade). É também muito interessante o desfile de informações que nos dá, vindas do 'outro lado' (o da UNITA, da África do Sul, dos EUA, dos neo-conservadores) e perda de mágica ou magia que leva os seus aliados a afastarem-se de Savimbi depois da morte de Tito Chingunji e de Wilson Santos. Interessante, aliás, a investigação que o autor faz sobre essas mortes. Interessante ainda como ele explica o desastre eleitoral da UNITA e os traços da personalidade de Savimbi que vão depois (quando se afasta de conselheiros independentes) contribuir para a rápida queda. Enfim, vale a pena ler e está à venda em Angola.