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11/09/2008

"isenta e imparcial"

Há uns dias (antes das eleições) denunciei aqui a manipulação de um orgão do estado, o único jornal nacional, pelo MPLA. Não foram só o tempo e o espaço ocupados por cada parte, mas a manipulação das notícias relativas à oposição, ao governo e ao MPLA. Mais ainda: os apelos à participação, contra a abstenção, na rádio sobretudo, eram transformados em apelos ao voto no MPLA (frase do tipo desta vendedora de um mercado de Benguela - pelo menos foi apresentada como tal: "agora então, que estamos com as escolas para os nossos filhos, hospitais novos, todos os dias vemos melhorias, temos água, temos luz, obras por todo o lado, eu quero que os meus filhos estudem, e possam tratar-se quando estão doentes, então agora não vamos votar, temos todos que votar e o voto é secreto, vota mesmo no partido do teu coração"). O director do Jornal de Angola, que tem melhorado o jornal em vários aspectos, tentou convencer-nos de que a linha que seguiam era "profissional, isenta e imparcial". Ele pode estar condicionado a fazê-lo e por isso não pode confessar o que faz. Mas também mentir assim é descaramento que o próprio jornal desmente no dia-a-dia. Foi o caso, aliás. No mesmo jornal, como se lê na «angonotícias» na internet, no dia 10 de Setembro, dava-se notícia sobre o relatório da missão da UE, mas omitindo o parágrafo relativo às críticas aos media estatais onde se dizia: "a desigualdade na distribuição do tempo e espaço dedicados às actividades de campanha, assim como a difusão de programas e notícias sobre projectos de desenvolvimento e inaugurações levadas a cabo pelo Governo, deixou os restantes partidos concorrentes em situação de clara desvantagem". Se a oposição fosse competente, há muito que teria entregue, nas instâncias apropriadas, uma denúncia completa e fundamentada, mesmo antes do dia das eleições - incluindo recortes de jornais e gravações de passagens na rádio. Note-se que a imprensa estatal é praticamente a única a chegar a todo o lado em Angola. Os governos abusam quando as oposições se deixam paternalizar, ficando na dependência deles há espera de algumas benesses. Na verdade, o povo também não vai votar numa oposição que não se consegue opor em condições a nada, que se deixou acomodar até à ingenuidade, e essa terá sido a melhor razão para a maioria das pessoas dar o seu voto "ao ladrão, esse pelo menos já nos rouba há muito tempo, já não vai tirar tanto" - como ouvi dizer uma popular a outra na rua.